sábado, 2 de maio de 2009

Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do sol,

quando depois do sol não vem mais nada...


Olho a roupa no chão: que tempestade!

Há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

onde uma tempestade sobreveio...


Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo...


Mas ninguém sonha a pressa com que nós

a despimos assim que estamos sós!


David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

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